"Vamos partilhar as Nossas Memórias do Natal.
Este foi o desafio da minha amiga Quica do Pó de Estrela. O seu desafio tem regulamento e pontuações e certificado de participação e prémio e tudo e tudo e tudo... (vão lá espreitar e aceitem o desafio que ela vai gostar e muito).
Sei que não tenho jeito para contar histórias e nem sequer fico abalada com isso. Não se pode ser bom em tudo e eu sei que sou boa noutras coisas, tais como... deixa cá ver... e não é que... sei lá!!!! Olha o melhor é deixar as gabarolices para outro dia pois hoje parece que fui atacada pelo alemão e não me lembro de nada. Mas o que é que eu estava a falar mesmo???? Ah! no desafio da Quica. Resolvi aceitar e dar corda aos dedos para me lembrar que...
Sei que não tenho jeito para contar histórias e nem sequer fico abalada com isso. Não se pode ser bom em tudo e eu sei que sou boa noutras coisas, tais como... deixa cá ver... e não é que... sei lá!!!! Olha o melhor é deixar as gabarolices para outro dia pois hoje parece que fui atacada pelo alemão e não me lembro de nada. Mas o que é que eu estava a falar mesmo???? Ah! no desafio da Quica. Resolvi aceitar e dar corda aos dedos para me lembrar que...
A história passa-se... já lá vão uns largos anos, teria para aí uns 6-7 anos, no tempo em que as crianças não tinham a abundância de prendas que têm hoje e nem pensávamos muito o que iríamos pedir ao Pai Natal.
Os meus Pais, tal como muitos outros naquele tempo de vacas magras, nem se atreviam a perguntar-nos o que gostaríamos que o Pai Natal nos colocasse no sapatinho. Sim porque nesse tempo colocávamos os sapatos, um par pelo menos, na chaminé e, de madrugada, por muito cedo que nos levantássemos lá teríamos a dádiva desse bondoso velhinho que descia as chaminés previamente limpas pelos "limpa-chaminés" profissão que hoje, que me conste, já nem existe.
A ansiedade por saber o que me caberia em sorte era tanta que eu tentava escutar todas as conversas, sem que ninguém desse por isso, para antecipar um pouco a alegria da magia daquela data tão ansiada por mim. É que naquele tempo as datas que mais adorava eram o Natal, pelas prendas e pelo ambiente bem diferente que se vivia em família, e o Verão para ir passar uns dias à Praia de Santa Cruz a casa que uma tia minha alugava à temporada. Tanto escutava, tanto escutava que dei por mim a achar estranho que os meus Pais de quando em vez falassem entre si uma linguagem estranha. A minha curiosidade foi enorme mas nem me dei ao trabalho de saber que raio de língua era aquela. Tal como em outras ocasiões ouvia dizer à minha mãe: cuidado!!! as paredes têm ouvidos, querendo com isso dizer que eu estava presente e poderia perceber a conversa de adultos que então faziam, também naquela altura percebi que aquilo tinha a ver com a minha presença e fiquei à coca.
De facto, não se deve nunca menosprezar a inteligência das crianças. A partir daquele momento a minha atenção redobrou e, passado algum tempo, toda aquela linguagem fazia sentido. Fiquei tão atenta mas tão atenta que o som feito pela tal lingua estranha me deu pistas e descobri... imaginem... que o meu Pai Natal ia trazer-me, além de presentes úteis para vestir o único brinquedo a que tinha direito devido à escassez de recursos - um estojo em madeira para colocar os lápis que, após as férias de Natal, levaria para a Escola Primária.
Foi uma alegria imensa poder saber com antecedência pois também já tinha percebido que o tal Pai Natal era, nem mais nem menos que o Pai e a Mãe de cada um de nós. Mas... porque diabo estaria eu a contar esta história se não tivesse havido a tal interpretação da linguagem? É que hoje não se ouve falar muito destes truques para ludibriar as crianças mas naquele tempo usava-se e chamava-se linguagem dos pês. Sabem como se fazia? Era assim... Jápá tepenhopo apa prenpendapa dapa Napatérpécipiapa (já tenho a prenda da Natércia) e por aí fora...
Fiquei feliz porque, quando nesse Natal me precipitei para a chaminé, lá estavam as prendas que tinha ouvido os meus Pais falar, em linguagem estranhíssima, confirmando que sem eles saberem eu tinha aprendido a 1ª língua estrangeira da minha vida.
Os meus Pais, tal como muitos outros naquele tempo de vacas magras, nem se atreviam a perguntar-nos o que gostaríamos que o Pai Natal nos colocasse no sapatinho. Sim porque nesse tempo colocávamos os sapatos, um par pelo menos, na chaminé e, de madrugada, por muito cedo que nos levantássemos lá teríamos a dádiva desse bondoso velhinho que descia as chaminés previamente limpas pelos "limpa-chaminés" profissão que hoje, que me conste, já nem existe.
A ansiedade por saber o que me caberia em sorte era tanta que eu tentava escutar todas as conversas, sem que ninguém desse por isso, para antecipar um pouco a alegria da magia daquela data tão ansiada por mim. É que naquele tempo as datas que mais adorava eram o Natal, pelas prendas e pelo ambiente bem diferente que se vivia em família, e o Verão para ir passar uns dias à Praia de Santa Cruz a casa que uma tia minha alugava à temporada. Tanto escutava, tanto escutava que dei por mim a achar estranho que os meus Pais de quando em vez falassem entre si uma linguagem estranha. A minha curiosidade foi enorme mas nem me dei ao trabalho de saber que raio de língua era aquela. Tal como em outras ocasiões ouvia dizer à minha mãe: cuidado!!! as paredes têm ouvidos, querendo com isso dizer que eu estava presente e poderia perceber a conversa de adultos que então faziam, também naquela altura percebi que aquilo tinha a ver com a minha presença e fiquei à coca.
De facto, não se deve nunca menosprezar a inteligência das crianças. A partir daquele momento a minha atenção redobrou e, passado algum tempo, toda aquela linguagem fazia sentido. Fiquei tão atenta mas tão atenta que o som feito pela tal lingua estranha me deu pistas e descobri... imaginem... que o meu Pai Natal ia trazer-me, além de presentes úteis para vestir o único brinquedo a que tinha direito devido à escassez de recursos - um estojo em madeira para colocar os lápis que, após as férias de Natal, levaria para a Escola Primária.
Foi uma alegria imensa poder saber com antecedência pois também já tinha percebido que o tal Pai Natal era, nem mais nem menos que o Pai e a Mãe de cada um de nós. Mas... porque diabo estaria eu a contar esta história se não tivesse havido a tal interpretação da linguagem? É que hoje não se ouve falar muito destes truques para ludibriar as crianças mas naquele tempo usava-se e chamava-se linguagem dos pês. Sabem como se fazia? Era assim... Jápá tepenhopo apa prenpendapa dapa Napatérpécipiapa (já tenho a prenda da Natércia) e por aí fora...
Fiquei feliz porque, quando nesse Natal me precipitei para a chaminé, lá estavam as prendas que tinha ouvido os meus Pais falar, em linguagem estranhíssima, confirmando que sem eles saberem eu tinha aprendido a 1ª língua estrangeira da minha vida.
Agora vou contar à Quica que já pode vir buscar a minha Memória longínqua do Natal de 1952/53, sob o título "A minha 1ª língua estrangeira"